Foi em meados de Fevereiro, no Avant Première Music + Media Market Berlin em Berlim, no coração da Potsdamer Platz, que tivemos a oportunidade de assistir à exibição do filme-concerto “Rammstein: Paris”, perante uma plateia muito limitada e constituída essencialmente por profissionais. Por se tratar de um filme ainda não editado, não nos foi possível captar imagem ou som.
Logo na introdução que antecede a primeira música “Sonne”, percebe-se de imediato que este registo será muito diferente do seu antecessor “Rammstein In Amerika” (2015). E com o desenrolar dos primeiros temas, torna-se evidente o acentuado toque artístico de Jonas Åkerlund, uma preocupação em enaltecer detalhes sonoros e visuais a um nível que nunca se viu em nenhum DVD na história dos Rammstein. A captação desses detalhes só foi possível graças às três dezenas de câmaras utilizadas, algumas delas em posições de grande proximidade, como é o caso da GoPro acoplada ao canhão de espuma em “Pussy”, que permite ver Till Lindemann em pleno “ato”. São também mostrados, em determinados temas, alguns close-ups individuais dos seis elementos, imagens que se sobrepõem à filmagem do concerto e que aparentam não terem sido gravadas naquele palco de Bercy.
Ao longo do concerto, os nomes das músicas vão surgindo no ecrã ao estilo gráfico de Tarantino. As letras formam-se consoante a temática da música em questão, por exemplo sangue em “Mein Teil”, sémen em “Bück dich”, duas asas em “Engel”, etc. Muitos efeitos especiais e sonoros foram adicionados para destacar pormenores, como o som das chamas e da pirotecnia, os açoites de Christoph Schneider na entrada de “Bück dich” e até sangue foi digitalmente acrescentado a pingar da boca do vocalista durante toda a performance de “Mein Teil”. Alguns fãs na primeira fila também não escaparam à equipa de edição de Jonas Åkerlund e Adrianna Merlucci: a certa altura um deles teve o prazer de receber uns dentes vampirescos.
Quem se recorda das colaborações anteriores de Jonas Åkerlund com os Rammstein, encontrará semelhanças entre os telediscos “Mann gegen Mann” de 2006 e “Ich tu dir weh” de 2009. Em ambos Till exibe uma longa língua viperina. Esse mesmo efeito está de volta, surgindo desta vez, e sem qualquer razão aparente, durante “Feuer frei!”, ainda que por breves segundos.
A derradeira “Frühling in Paris” chega apenas depois de passarem os créditos finais (os quais tiveram vários planos de fãs como fundo) e é-nos apresentada totalmente a preto e branco, o que poderá explicar a opção por luzes exclusivamente brancas e sem efeitos durante o concerto. Talvez o refrão não tenha tido o impacto audível esperado, considerando a canção de Édith Piaf, mas não deixa de ser um momento especial e de consagração, uma espécie de ode de homenagem à capital francesa, com direito a uma levitação digital do vocalista enquanto faz o seu habitual rodopio.
“Rammstein: Paris” não é apenas um registo de um concerto, é uma experiência em vídeo em que cada frame foi selecionado, cortado e esculpido à exaustão, numa cadência tão acelerada que há o risco de se tornar visualmente extenuante para o espectador. Este é o oposto do cru e direto “Völkerball” (2006), aqui a obra preza-se por épicos detalhes em câmara lenta, que nem a plateia presente nos concertos em Paris em 2012 teve certamente capacidade de captar. Já alguns efeitos especiais parecem desprovidos de contexto, principalmente aqueles utilizados durante o segmento no palco B, mas esta será certamente uma forma de enriquecer visualmente aquele espaço tão limitado.
Contudo, num mundo onde a música é agora uma indústria de consumo rápido, o prazo de validade de “Rammstein: Paris” já expirou. Por mais que o realizador Jonas Åkerlund reivindique o factor intemporalidade, que em parte se mantém obviamente, a relevância primordial deste registo ao vivo foi-se dissipando enquanto a banda o manteve na gaveta durante meia década.
Alinhamento:
- Sonne
- Wollt ihr das Bett in Flammen sehen
- Keine Lust
- Asche zu Asche
- Feuer frei!
- Mutter
- Mein Teil
- Du riechst so gut
- Du hast
- Palco B Bück dich
- Palco B Mann gegen Mann
- Palco B Ohne dich
- Mein Herz brennt
- Engel
- Pussy
- Frühling in Paris